sou filho de david sou português errante
na vida eu vi muita mulher estragada
retinta de sol e fel de ser gasta
mas nenhuma vi com os olhos de vitral
da minha mãe minha amada
na vida corri muita ladeira acima
montanha aldeã rumo a paços findos
os reis já depostos os sonhos idos
e o sabor amargo de um sorvete lima
(eram os mais baratos)
do meu pai se não falo é que não falo ainda
mas da minha mãe que deus quer ainda viva
canto para dentro e a alma estiva
de dor de desejo de esperança finda
descobriu-me a sorte de quem era família
e da árvore de jessé de onde vinha
já ninguém se lembra mas cá dentro a vinha
prepara o cálice da eterna vigília
e eu que fui para fora sem saber ao certo
quando voltaria tornei-me de sal
ao olhar para trás e ver Portugal
tão azul de mar e tão breu de perto
(com isso é bastante)
sou filho de david sou português errante